Essa coluna comportará uma série de análises das músicas que intertextualizam com referenciais do que se chama Nordeste, amparado na visão crítica do escritor Durval Muniz de Albuquerque Júnior, no seu livro tese A Invenção do Nordeste e Outras Artes, como já nos referimos anteriormente. A música popular brasileira, especialmente a produzida por compositores vindos da região norte e nordeste do país, tem uma relação muito íntima com esse conceito de Nordeste que cristalizou-se com a repetição incessante de velhos signos e jargões que povoam o imaginário popular, tornando-se quase um consenso essa idéia separatista com o resto do país, como se o nosso Nordeste pertencesse a uma outra pátria e não ao Brasil. E falando em separação, quem não se lembra, tão recentemente da idéia separatista que povoava a cabeça de alguns ilustres políticos no Planalto Central? Já seria assim, dividir a Bahia, a idéia que permeava as discussões no Congresso Nacional. Pode-se notar como a cultura da miséria ficou arraigada e transmitida de geração à geração: a idéia era separar a parte fértil e próspera (na agricultura) do sul da Bahia do restante do Estado. Vários outros Estados do Nordeste também sofreram o assédio infrutífero dos insaciáveis políticos que estavam interessados em tão somente criar mais uma área admnistrativa para atender a interesses escusos. Pois bem! Lembrando disso, encontrei na música composta por Bráulio Tavares e Ivanildo Vilanova, Nordeste Independente, interpretada por Elba Ramalho, uma espécie de hino, que fala enfaticamente dessa questão. Essa música também serviu de tema para a peça 1808 – A Invenção do Brasil, baseada no livro “1808” de Laurentino Gomes, onde o autor nos traz a lembrança de uma das primeiras tentativas de divisão da Bahia, cujo movimento ficou conhecido como “Revolta dos Alfaiates”. A música faz um passeio pelas vantagens que haveria se de fato “libertassem” o Nordeste do restante do país e pelas desvantagens pelas quais passariam com a desagregação da região, do território brasileiro. Observem nesse trecho, quando o compositor instiga os poderes constituídos a efetivarem a “independência do Nordeste”: “Já que existe no sul esse conceito Que o Nordeste é seco, ruim e ingrato Já que existe a separação de fato É preciso toná-la de direito Quando um dia qualquer isso for feito Todos dois vão lucrar imensamente Começando uma vida diferente Da que até hoje a gente tem vivido Imagine o Brasil ser dividido E o Nordeste ficar independente” Uma letra bem humorada, tocada e cantada no estilo repentista e interpretada na voz metálica de Elba Ramalho. Observando a letra, há um crescendo de alegria e entusiasmo, uma espécie de revanche contra o restante do país, mas que não faz mais do que reafirmar o conceito estereotipado e cristalizado ao longo dos anos pelos “inventores do Nordeste”, como tão bem afirma o nosso ilustre escritor. Vale a pena conferir!
Fonte: http://www.imbuibocadorio.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=2169:coluna-imagens-do-nordeste-na-midia-contemporanea-11092010-&catid=35:entretenimento&Itemid=75